O 5 de Outubro traz-me invariavelmente a recordação de
quando eu era miúda e o meu Pai ia a
Lisboa, com amigos, para grande preocupação da minha Mãe, comemorar, como ele
dizia, a implantação da República.
Voltava tarde fora, com um ar feliz, e recordo-me de um dia
ter dito, não, correu tudo bem, a Guarda carregou a cavalo, ai tu não me digas,
homem, mas até foi engraçado, engraçado como, para nós dispersarmos lançou gás
lacrimogéneo, ai que tu tens os olhos vermelhos, não, não é nada, havias de
ver, e ria-se discretamente, até os cavalos choravam.
Era o ritual dos republicanos que iam depositar flores junto
à estátua de António José de Almeida, para grande arrelia de Salazar, o ditador
que não gostava de ajuntamentos de mais de duas pessoas, já que o que “eles”
queriam era conspirar contra o governo, dizia-se.
Era assim a República lá em casa, e nesse dia 5 eu ouvia de
novo as histórias do meu avô paterno que assistira feliz ao nascimento da
República, que era católico praticante,e que nesse dia dava grandes vivas à
República junto à casa do padre lá da terra, seu inimigo figadal, um talassa
rezingão que odiava carbonários.
Eu sou republicana, por sucessão e convicção.
Viva a República!
Licínia Quitério
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